como tudo começou
a história do meu primeiro livro
Uma importante página da minha história foi virada em 2011, quando descobri que escrever para mim não era apenas um hobby ou devaneio, mas missão. Escrevo desde a adolescência, poesias, contos, músicas, roteiros, porém sem imaginar que isso me ajudaria a construir as bases de suporte à essa minha descoberta.
Inspirada num seriado de tv, Supernatural, e encantada com seu formato inicial, me animei às primeiras páginas mentais da história, que ainda bem pequenina, já me fazia descobrir que eu “estava grávida”! Ela ainda não tinha nome, mas um sentido e isso era o mais importante naquele momento. Queria escrever com significado e por meio de analogias e símbolos, pois o desvendar, descobrir, me atraem e encantam!
Ideias relacionadas a um espelho que tivesse o “poder” de revelar o estado da alma de quem se olhasse nele foram sendo geradas... caminhos para um autoconhecimento me seduziram.
Meu primeiro desafio foi escrever a história em formato de livro. Roteiro para mim era mais fácil, entretanto um livro parecia mais adequado. Assim iniciei a adaptação das cenas que eu via para os capítulos que escrevia.
Segundo desafio: Escrever tudo com sentido, onde nada estivesse lá “por acaso”. Assim, meu objetivo inicial tomou uma dimensão maior e mais profunda, ajudar e encorajar as pessoas a um autoconhecimento sincero, para que descobrissem suas riquezas e fossem mais livres e felizes. Motivar as pessoas à um encontro com Deus, levá-las `a certeza de que não estão e não são sozinhas, que são habitadas! Habitadas pelo Amor verdadeiro!
E o terceiro desafio foi encará-lo! Como escrever esse itinerário de autoconhecimento? Como tocar a vida de cada um que se propusesse a lê-lo? Como encorajar os leitores à essa aventura tão difícil e ao mesmo tempo, tão gratificante?
Através da via de Safia, ousei!
A essa altura minha gestação prosseguia empolgante e desafiadora, a história já tomava forma, ganhava um corpo próprio e único. Um livro, dividido em três partes. Inspiração vinda das Sagradas Escrituras, 12 capítulos na primeira parte (simbolizando o Antigo Testamento), 12 na segunda (simbolizando o Novo) e um único capítulo, dividido em três momentos (símbolo da Santíssima Trindade) na terceira e última parte.
Os nomes escolhidos, todos selecionados por seus significados, completariam o sentido da história. Sim, pois acredito que cada pessoa, com seu nome, compõe o sentido de sua própria história, revela muita coisa sobre sua identidade. Para mim, o nome diz muito. Nós não o escolhemos, nos é dado!
Ao chegar ao fim da primeira parte e início da segunda, descobri que estava grávida de minha quarta filha! Então, minha gravidez não era mais só intelectual, mas “se fez carne” também! Nesse momento dei uma pausa na escrita, devido às necessidades próprias da gestação, com a promessa de voltar à ela em um tempo mais favorável. Decisão tomada mediante uma necessidade real, porém confesso ter sido uma boa “desculpa” para mergulhar naquela que era para mim, a parte mais difícil de escrever: a alma de Safia!
Decidida a viver uma coisa de cada vez, me dediquei à gravidez. Por volta do terceiro para o quarto mês de gestação, tivemos a alegria de saber que era uma menina e colocamos o nome de Celina (filha do céu, pequena guerreira), descobrimos também que ela tinha uma síndrome letal, a síndrome de Edwards... (não podíamos ter colocado nome mais significativo!).
Nunca imaginamos perder um filho e aquela notícia nos impactou, porém jamais nos revoltou. Vivemos a gestação da Celina em meio a louvores e ação de graças, sustentados pelas orações da Comunidade, amigos, parentes, conhecidos e desconhecidos!
Deus sabe o que pede de cada um e Celina foi um presente para nós! A amamos a cada momento em que ela esteve conosco e acreditamos que Deus realizaria um milagre! Preparamos tudo para sua chegada, a acolhemos em cada detalhe, fotos, lembrancinhas, chá de bebê, roupinhas, reformamos a casa, compramos um carro maior! Até que, com 34 semanas de gestação, Celina se despediu de nós, após a noite de seu chá de bebê.
Deus, em sua infinita graça, me manteve em pé diante daquela cruz! Entregamos a Ele, quem a Ele pertencia: a “filha do céu e pequena guerreira”. Sim, ela combateu seu combate e foi elevada à glória dos céus! Deus realizou um milagre em nós através dela. Ele realizou um milagre! Não aquele que esperávamos, mas aquele que na verdade precisávamos experimentar!
Depois de meses tão intensos, quando se completou um mês de sua partida, Deus me pediu para dar a luz ao nosso “quinto filho”! Foi quando uma enxurrada de inspiração me visitou e eu pude escrever em menos de dois meses a parte mais difícil do livro para mim! O Espelho do Monge (OEDM) foi concluído em 22 de agosto de 2012, (dia do aniversário do meu falecido pai) e até hoje me surpreende.
Após seu término, comecei a ensaiar outras histórias, enquanto tentava apresenta-lo às editoras, para publicação.
Um ano depois dessa busca, fui surpreendida com o pedido de continuar a escrita de O Espelho do Monge. Impactou-me esse novo desafio, porque pensava ter fechado a história e não sabia o que mais poderia escrever. Obedeci e aguardei a inspiração necessária para a continuidade da história. Nova surpresa: a inspiração chegou em dose dupla! Duas histórias se formaram com seus títulos distintos: A Perseguição e A Espada.
Meu primeiro filho ainda era bebê e eu me via grávida novamente, e de dois!
Cerca de dois anos após o termino do primeiro livro, iniciei a escrita da continuação, antes de O Espelho do Monge ter sido publicado. Terminei A Perseguição em 13 de abril de 2014. Em novembro desse mesmo ano abandonei a tentativa com as editoras comerciais e fechei contrato com a Chiado em dezembro de 2014. O Espelho do Monge teve seu lançamento oficial em 15 de maio de 2015 (meu aniversário de matrimônio).
Assim o que eu escrevia no silencio escondido do meu quarto, seria exposto como no alto de uma montanha, o que de primeiro momento assusta, depois experimentei um misto de realização e insegurança: como ele seria recebido? Uma coisa é escrever, outra é publicar! Diferente, emocionante, desafiante.
O Espelho do Monge é um livro de ficção e romance, mas se propõe a ir mais fundo. Através de uma linguagem simbólica fala de realidades concretas, de personagens reais. Uma narrativa que convida, de maneira simples, dinâmica e bem humorada, à uma descoberta profunda.
Encontrei respostas diferentes para a pergunta de como ele seria recebido. Mesmo que a maioria tenha entendido bem a proposta, descobri que o contrário também faz parte e está tudo bem!
Ficou claro para mim que O Espelho do Monge é um livro para ser descoberto e pode revelar algo a mais quando se entende que não é Safia a personagem principal, mas o próprio leitor.
Uma história que não termina na última página, mas continua na vida de cada um.